quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Proposta educativa do curso de Artes Visuais - UFU , em parceria com a Escola Bueno Brandão em Uberlândia - MG.

   

            Propostas educativas que explicitam a diversidade cultural são expressas nos Parâmetros Curriculares Nacionais e nos Temas Transversais, ambos publicados pelo Ministério da Educação. Também com essa preocupação, em março de 2008, foi aprovada e sancionada a Lei 11.645/08, que diz respeito da obrigatoriedade da inclusão no currículo oficial da rede de ensino, do estudo e valorização da cultura indígena, medida que vale para todas as escolas de ensino fundamental e médio e dos cursos de licenciatura. De acordo com a nova lei, todas as disciplinas, especialmente a arte-educação, literatura e história, devem incorporar a contribuição dos indígenas à cultura brasileira. Nesse sentido, como trabalhar com saberes e fazeres indígenas ainda pouco reconhecidos no meio acadêmico, alguns tão próximos e tão nossos? Essa questão desafia o arte-educador, dado o confronto entre as esferas do ensino de arte moderno e pós-moderno. Este chegando ao Brasil no início da década de 1980 por meio da Proposta Triangular, que se sustenta sobre três vertentes: a leitura da obra de arte (o ver), o fazer artístico (o fazer) e a informação histórica (o contextualizar) considerando o ensino de arte não só como expressão, mas também como conhecimento e cultura. Essa abordagem abriu as portas para as imagens na sala de aula, que desde então passaram a ter um papel fundamental nas práticas do ensino de arte, porque através delas se chega à análise estética e histórica contextualizada.           
            Conforme pesquisas recentes, desde 1995, as imagens visuais, em especial as reconhecidas pela academia como obras de arte — principalmente as dentro dos padrões da modernidade e com uma forte carga erudita —, passaram a ser adotadas em demasia pelos professores do ensino fundamental e básico de Uberlândia como referência para que, ao serem analisadas, desencadeassem processos criativos nos seus alunos. De fato, um número maior de signos configuracionais deve ter sido apropriado, mas só os da cultura dominante; de fato se promoveu um arquivamento maior de esquemas ou programas empregados no ato criativo pelos alunos, mas isso não quer dizer que houve avanço rumo aos estudos culturais apontado pela Proposta Triangular. Ao contrário, isso reforçou os códigos eruditos e, sobretudo, dos eruditos modernos. No processo de transição ainda em curso que nos encontramos – do ensino de arte moderno ao pós-moderno-, permanece uma não-sintonia entre o discurso teórico da licenciatura, a qual vê a arte como algo além de movimentos artísticos, mas, também como conhecimento e cultura - e outras disciplinas teóricas e práticas dos cursos de licenciatura em Artes Visuais.
            Com relação ao que a academia considera como obras de arte, ou produção de grandes artistas, existe uma vasta iconografia e literatura específica, amplamente difundidos; mas com relação as produções estéticas que não correspondem aos padrões estéticos legitimados, estas ficam no anonimato. Como conseqüência as imagens e o discurso, adotados em sala de aula pelos licenciados, não representam a pluralidade cultural proposta no ensino de arte pós-moderno. Frente a essa realidade é necessário que se repense estratégias para sanar o abismo existente entre a escrita das leis e a realidade. Que conceitos de cultura e arte devem se tornar referenciais para a prática docente focalizada nas culturas? Tal desafio suscita outras indagações igualmente importantes: como as políticas públicas têm tratado as culturas indígenas na arte-educação? Qual é o discurso que sustenta os poderes-saberes expressos por essas políticas públicas? Como tudo isso se reflete na escola? Para que a lei ao ser aplicada não atue como um veículo de fortalecimento de preconceitos e estereótipos, este subprojeto pretende responder as questões inicialmente levantadas por meio de pesquisas teóricas e oficinas práticas oferecendo sustentação para que os participantes possam identificar e difundir a arte indígena como manifestação viva e atual e incluir nas suas práticas docentes, valores estéticos até então ocultos ou desconsiderados no ensino formal. Uma das estratégias já incorporada a este sub-projeto para alcançar esse objetivo é o reconhecimento da importância de outros campos do saber como a antropologia e a sociologia. Outra, igualmente importante, é a aproximação de dois importantes museus universitários, o Museu do Índio e o MuNa (Museu Universitário de Arte) buscando identificar como seus acervos e ações educativas, poderão contribuir com os objetivos do projeto, em especial aquele que busca promover o diálogo entre as produções estéticas contemporâneas dos índios com a dos não índios.
            As oficinas experimentais serão resultantes do diálogo estabelecido entre diferentes áreas do saber e tipologias dos museus, e acontecerão no laboratório de ensino de Artes Visuais sediado no Campus Santa Mônica da UFU, contando com a participação ativa da equipe envolvida (coordenadora, professores supervisores e licenciandos, além de artistas e artesãos convidados), para posteriormente serem oferecidas aos alunos do ensino fundamental e básico, tanto nos espaços físicos das suas escolas como nos espaços físicos da universidade. Os participantes (coordenadora, professores supervisores e licenciandos), serão incentivados por meio de suas pesquisas, a criarem os próprios materiais didáticos a serem utilizados nas oficinas que serão oferecidas as escolas.
            Este plano ao desenvolver-se, enfatiza a relação escola, universidade e museus universitários, preocupa-se com, a pertinência e relevância ao contexto, a participação da comunidade escolar e a oportunidade de aprendizagem. Procura apresentar coerência entre o contexto, objetivos, público alvo, estratégias de ação, atividades oferecidas e os resultados pretendidos. Além de incorporar agentes e/ou parceiros como instituições públicas (museus) também está aberto a incorporar membros da comunidade e ONGs que possam contribuir para seu desenvolvimento e com a perspectiva de continuidade e a produção e circulação de saberes. Com relação à participação da comunidade escolar, esta é formal, proativa, continua. Deve ocorrer tanto na construção, no usufruto das atividades oferecidas como na produção e na gestão das atividades. Também deve participar na divulgação, no acompanhamento e na avaliação do projeto, além de manter o compromisso com as demandas da escola, acolher os talentos de seus professores e alunos, bem como dos bolsistas licenciandos. A interação e a convivência entre os membros da escola e os membros das outras instituições envolvidas, devem ser também favorecidas. Por sua vez, as práticas educativas devem estimular as capacidades criativas, de expressão e de comunicação de conteúdos cognitivos e afetivos, colaborando com o desenvolvimento de habilidades e /ou ampliação de repertórios artístico-culturais além de favorecer a fruição cultural. Os museus serão reconhecidos como mediadores e fontes de conhecimento e sempre que necessário serão estabelecidas formas de cooperação com outros projetos já existentes nesses espaços, prática esta, também adotada com relação às escolas.

                                                                       Coordenação do programa PIBID, do Curso de Artes Visuais na escola Bueno Brandão , Uberlândia - MG.